As duas medalhas de Barcelona juntam-se aos outros quatro ouros que Cielo jpa havia conquistados em Mundiais |
Nadador brasileiro trocou papéis com tempos por fotos de ídolos no quarto
“Foi a prova e o pódio mais emocionante da minha carreira”. Esta é a definição de Cesar Cielo para a conquista do ouro nos 50 m livre no Mundial de Esportes Aquáticos, encerrado no último domingo (4) em Barcelona. Tricampeão da disputa mais rápida da natação, o brasileiro se debulhou em lágrimas enquanto ouvia o Hino Nacional no Palau Sant Jordi, aplaudido de pé pela torcida, assim como já havia feito ao ser o primeiro colocado nos 50 m borboleta.
Tanto choro é justificado pelas dificuldades vividas por Cielo nos meses que antecederam a competição. Após sair frustrado das Olimpíadas de Londres, quando ganhou “apenas” bronze nos 50 m livre, o atleta precisou passar por duas cirurgias complexas nos joelhos, desgastados por tantos treinos pesados ao longo da vida. Fisioterapia por seis horas diárias e dificuldades até para subir escadas viraram rotina na vida do nadador, que, para não desmoronar psicologicamente, resolver trocar a decoração da parede do quarto: saíram os papéis com tempos que queria fazer e entraram pôsteres de Ronaldo Fenômeno e Rafael Nadal.
Em comum com Cielo, o atacante brasileiro e o jogador de tênis espanhol tiveram problemas sérios nos joelhos, que ameaçaram a continuidade da carreira deles:
- É uma luta que é inexplicável e eles mostraram que é possível vencer. Fiz a mesma cirurgia do Ronaldo e ele conseguiu voltar a chutar uma bola... se eu fosse jogador de futebol, confesso que precisaria de mais tempo (de recuperação). A final de Roland Garros também me inspirou, pois eu vi o Nadal ali correndo, derrapando no saibro, mesmo depois de tudo. Coloquei na minha cabeça que eu também podia. Não dava para usar a desculpa dos joelhos
O processo, porém, teve altos e baixos. Cielo lembra que até atividades de seu dia-a-dia ficaram comprometidas com as cirurgias:
- Eu dirigia todo torto porque não conseguia ficar com o joelho muito dobrado. Se via o sinal vermelho, tinha que usar o freio de mão para deixar a perna esticada. Lá em casa, se eu esquecia alguma coisa no segundo andar, só subia para pegar se fosse muito perto importante mesmo. Doía o tempo todo e até hoje preciso fazer gelo.
A recompensa veio em Barcelona, com direito a encontro com dois dos maiores velocistas da história da natação: o russo Alexander Popov e o holandês Peter van den Hoogenband:
- Receber a medalha dos 50 m livre do Popov foi muito legal. Acho que 90% dos atletas da minha geração são fãs dele ou do Peter, que me entrevistou assim que eu sai da piscina
Por fim, veio o reconhecimento do público que acompanhava as provas em Barcelona:
- A arquibancada se levantar foi inesperado para mim. Eu achei que eles iam parar e eu também (de chorar). Às vezes o pessoal não entende porque me emociono tanto no pódio, mas é por causa de toda a pressão que me coloco. Pra mim, é tudo ou nada mesmo.